Esclarecemos aqui todas suas dúvidas sobre homeschooling e como vamos tratar a educação das crianças na estrada.
Mas e a educação das crianças?
Essa é a segunda frase que ouvimos das pessoas quando contamos sobre nosso projeto de volta ao mundo no trailer, porque a primeira é: “Que loucura, que coragem!”. A nossa sociedade atual não consegue conceber uma forma de vida diferente da estabelecida pelo sistema. Desde que nasceu a Isabela, nossa filha mais velha, praticamos homeschooling, ultimamente seguindo mais a linha do unschooling, com um pé na Pedagogia Científica de Montessori, sempre que possível. Com a viagem praticaremos Wordschooling ou Roadschooling. Nunca ouviu falar nesses termos? Explico.
Homeschooling
Homeschooling é o termo geral utilizado para designar a educação domiciliar. A criança não vai à escola regular, mas pode ser (ou não) matriculada numa escola à distância, pode ter aulas (ou não) regulares, com lições, provas, trabalhos e avaliações.
Unschooling
Dentro do Homeschooling encontra-se também o Unschooling, também chamado de Aprendizagem Natural. Nesse caso, os pais muitas vezes passam por um processo de desescolarização, ou seja, descobrem que a aprendizagem não precisa necessariamente ser sistematizada como na escola. A criança aprende naturalmente, de acordo com seus interesses, tendo um ambiente preparado ao seu redor para fomentar a curiosidade.
Aqui em casa sempre investimos muito em materiais concretos que auxiliem na compreensão de diversos conceitos, sejam curriculares ou não. Por exemplo, o material dourado, a escala cuisinaire, jogos sobre as 4 operações e diversos blocos lógicos para os conceitos matemáticos. Microscópio, jogos para fazer experiências, esqueletos e torsos humanos de plástico, mapas, globo terrestre, bandeiras e vídeos educativos como os do canal Manual do Mundo e livros, muitos livros, para os conceitos científicos, históricos e geográficos. Para a alfabetização, temos alfabetos móveis, quadros de escrever e jogos didáticos. Para as artes, frequentamos muitas exposições, museus, peças de teatro, aulas de dança, patinação, ginástica e disponibilizamos tinta e papel. Papel. E mais papel. Piano, violão, violino e um ukelele para incentivar o interesse pela música. Ainda utilizamos diversos aplicativos e sites educativos de apoio, como o IXL e o Khan Academy. E finalmente, para incentivar uma visão mais ampla de mundo e o conhecimento de diferentes culturas, gostamos de receber hóspedes estrangeiros via Couchsurfing. Já hospedamos amigos da Rússia, Irã, Filipinas, França, Irlanda, Finlândia e Argentina.
Como fiz magistério, sou formada em Letras e tenho mestrado em Literatura, fica um pouco mais fácil de saber como auxiliar o aprendizado dos pequenos sem parecer uma sala de aula, O Fabiano é formado em Ciências da Computação e tem inglês fluente, inclusive tendo trabalhado nos últimos 6 anos para uma empresa americana, o que nos dá também um bom suporte nas exatas e línguas estrangeiras. Mas é claro que nada disso é pré-requisito, pois muitos pais sem essa formação também fazem homeschooling ou unschooling no Brasil.
Worldschooling
Em 1520 o navegador espanhol Fernão de Magalhães comandou a primeira expedição de circum-navegação da Terra. Na ocasião, atravessou um estreito canal de água com aproximadamente 600 km de extensão, que une os oceanos Pacífico e Atlântico no sul da América do Sul. Esse estreito passou posteriormente a ser chamado de Estreito de Magalhães, e mais tarde foi rota de importantes pesquisadores como Francis Drake e Charles Darwin.
Essa é uma das muitas histórias sobre a América do Sul que você provavelmente aprendeu na escola. Eu lembro, ainda que vagamente. Acontece que, em certo ponto da nossa viagem, faremos a travessia do Estreito de Magalhães usando um ferry, que vai levar a gente com carro, trailer e tudo mais. Será uma aula de história e tanto, daquelas pra levar pra vida toda!
Se fosse para ficarmos em um só lugar, teríamos raízes ao invés de pés.
Rachel Wochin
É mais ou menos disso que trata o wordschooling, ou roadschooling. A educação acontece na estrada mesmo, aproveitando-se do ambiente para assimilar conceitos de forma tão viva e concreta quanto possível. Por que não educar ao caminhar?
Dessa forma o leque vai se ampliar muito. Quer coisa melhor do que aprender sobre vulcões, fauna e flora, culturas diversas, do que presenciar isso fisicamente? Ver pinguins, baleias, guanacos, lhamas, neve, pessoas com trajes diferentes, múmias indígenas, Machu Picchu(!), Maoris? Aprender sobre a história da independência dos países sul-americanos, comidas, dança, artes típicas, tudo isso in loco?
Nenhuma sala de aula pode entre quatro paredes suplantar todo esse conhecimento e, principalmente, todo o respeito que queremos ensinar às crianças pelo que é diferente, todo o sentimento de gratidão que desejamos passar a elas por esse mundão lindo que Deus nos deu.
Além disso, sempre há a possibilidade de fazer intercâmbio e as crianças podem visitar escolas em algumas cidades. Se isso der certo será uma experiência única conhecer escolas com metodologias alternativas.
Perguntas Frequentes
E a questão jurídica, como fica?
No Brasil não há regulamentação, seja em caráter permissivo ou proibitivo. Ou seja, depende da interpretação de cada parte envolvida. O assunto está aguardando julgamento no STF. Enquanto o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a matrícula em alguma escola — e por isso alguns pais optam por matricular as crianças em escolas à distância, como a Clonlara, Calvert, K12, entre outras — a Constitução apenas impõe aos pais o dever de educar os filhos — o que obviamente já ocorre, no caso do homeschooling.
Em muitos países o homeschooling é legal e regulamentado, além de amplamente praticado há décadas. É o caso dos Estados Unidos, por exemplo, e em alguns estados como a Carolina do Norte, o número de crianças homeschoolers já é maior do que o número das matriculadas em escolas particulares. Vários colegas de trabalho do Fabiano nunca foram para a escola regular, apenas para a Universidade.
Mas e a socialização?
Sério, gente? O que mais faremos durante essa viagem será conhecer outras pessoas! Amigos em todos os lugares, de todas idades, classes sociais, culturas diferentes! Quer maior socialização do que essa?
E se um dia eles quiserem ir pra faculdade?
Caso as crianças um dia desejarem ingressar na universidade bastará fazer a prova do ENCCEJA e ganhar o certificado de conclusão do Ensino Fundamental (com 15 anos) e depois o de conclusão do Ensino Médio (a idade mínima é de 18 anos). Simples assim. Sem pressa.
E se um dia quiserem ir para a escola?
Por que não? Não somos contra as escolas e não advogamos a favor do homeshooling como regra geral. Apenas defendemos o direito dos pais em poderem decidir o melhor modelo educacional para seus filhos, e acreditamos que a forma que seguimos agora é o que melhor combina com nossa maneira de pensar e levar a vida. Mas isso sempre pode mudar, a qualquer momento. É isso que significa viver uma vida intencional!